Conforme comentamos na quinta-feira, neste artigo, a reunião em Jackson Hole tinha o potencial de causar fortes movimentos no mercado. Se o discurso de Powell na sexta-feira fosse mais duro, as expectativas seriam revertidas e os preços teriam que, mais uma vez, buscar um novo ponto de equilíbrio ao tentar entender quais serão os próximos passos do BC americano com relação à política monetária.
Nossa hipótese estava correta e a bolsa americana opera, agora, cerca de 5% abaixo da véspera do discurso. O principal motivo, de certa forma, espelha de forma invertida o que aconteceu na reunião de julho do FOMC e o mercado interpretou agora que o BC americano está mais preocupado com os níveis inflacionários do que tinha dado a entender antes, que está disposto a tomar medidas duras como elevar os juros a patamares restritivos em termos reais e que aprendeu a maioria das mais importantes lições de como derrotar a inércia da alta de preços com o ex-presidente do FED Paul Volcker, ícone maior da política hawkish. Mais, destacou que o mercado de emprego vai ter que sofrer o que, naturalmente, vai bater nas taxas de crescimento do PIB, que devem entrar numa recessão mais clássica. Como o mercado como um todo tinha feito um movimento muito otimista ao acreditar que, com juros em torno de 3% ao ano, conseguiríamos chegar logo a um patamar de 2,5%, então, houve toda uma reprecificação dos ativos que ainda está em curso. Basicamente, tivemos quase dois meses de capital buscando risco e de apostas otimistas que foram decepcionadas e é difícil prever até quando esse movimento de reversão pode durar. Por enquanto, os ativos brasileiros foram poupados, sendo um destaque quando comparamos com a maioria dos nossos pares. Talvez isso seja explicado com uma expectativa de resultados nas pesquisas, algo que pode ter efeito passageiro. Mas mesmo com melhoras nesse campo, no final, pelo menos num cenário de curto prazo, a piora nos preços dos ativos globais deveria bater nos nossos ativos domésticos. Isso se torna ainda mais provável pelo fato de que grande parte da sustentação dos preços nos patamares recentes vem de investimento estrangeiro na B3, algo que como já testemunhamos este ano, é extremamente volátil e tende a mudar de direção quando o sentimento externo se deteriora.
Em suma, essas mudanças vão razoavelmente em linha com nosso cenário principal. Acreditamos que estamos num momento de parcimônia, logo, não em um momento de tomar risco, principalmente aqui dentro do Brasil e nestes preços atuais. Mas esse é um diagnóstico de curto prazo, não uma recomendação para os próximos anos.
Postar um comentário